Em 2025, uma série de filmes completa 40 anos desde suas estreias nos cinemas. O ano de 1985 marcou uma virada simbólica na produção audiovisual, consolidando tendências narrativas e estéticas que ainda reverberam. Títulos como De Volta para o Futuro, A Cor Púrpura, Os Goonies, Clube dos Cinco, O Feitiço de Áquila, Rocky IV, Rambo II: A Missão, Comando para Matar e A Rosa Púrpura do Cairo formam um mosaico que atravessa gêneros e intenções.
Esses filmes operam em registros distintos, mas refletem dilemas que marcaram o imaginário norte-americano durante a segunda metade da década de 1980: tecnologia, juventude, trauma de guerra, desejo de fuga, repressão social e construção da memória.
A adolescência como laboratório narrativo
Dois títulos colocam a juventude no centro da narrativa: Os Goonies (disponível no MAX), de Richard Donner, e Clube dos Cinco (apenas para aluguel no Youtube e Prime Vídeo), de John Hughes. Ambos partem de ambientes fechados — um porão cheio de pistas, uma biblioteca escolar durante a detenção — para construir trajetórias de autoconhecimento e descoberta. Em comum, os dois filmes capturam a transição entre infância e vida adulta como território de conflito e invenção.
De Volta para o Futuro (Globoplay), dirigido por Robert Zemeckis, reforça esse mesmo princípio, ao propor uma viagem temporal que coloca um adolescente frente a frente com a estrutura familiar que o formou. O uso do tempo como mecanismo narrativo não apenas costura o roteiro como também projeta o cinema como espaço de revisitação contínua.
Fantasia, deslocamento e fuga da realidade
O Feitiço de Áquila (Disney+), com direção de Richard Donner, mistura elementos medievais e sobrenaturais para propor um romance amaldiçoado entre dois personagens separados por uma maldição.
Já A Rosa Púrpura do Cairo (Prime Vídeo), de Woody Allen, se ancora na metalinguagem, ao fazer um personagem sair da tela do cinema e interagir com a vida da espectadora que o acompanha. O cinema, nesse caso, funciona como portal literal e simbólico de evasão.
Ambos os filmes expõem o desejo de fuga da realidade como resposta às limitações sociais, afetivas ou temporais, um tema recorrente da década.
A ação como espetáculo e discurso político
Rocky IV (aluguel na Prime Vídeo, Google Play e Apple TV) , Rambo II: A Missão (Prime Vídeo, Netflix e Telecine) e Comando para Matar (indisponível no momento) ocupam o campo do cinema de ação, mas com contornos distintos.
Rocky IV, dirigido e protagonizado por Sylvester Stallone, insere o ringue de boxe dentro da lógica da Guerra Fria, ao confrontar o pugilista norte-americano com um oponente soviético.
Rambo II, também com Stallone, revisita o Vietnã sob uma ótica de revanche. Em ambos, a figura do herói solitário se impõe sobre o inimigo estrangeiro com respaldo emocional e físico.
Comando para Matar, com Arnold Schwarzenegger, investe na hipérbole da força, com uma narrativa de resgate que consolida o corpo do protagonista como máquina narrativa. O gênero se afirma como vitrine de domínio e controle, sintetizando boa parte da retórica política daquele momento histórico.
Memória, trauma e resistência
A Cor Púrpura (MAX), dirigido por Steven Spielberg, trabalha a narrativa de opressão e resistência sob a ótica da mulher negra no sul dos Estados Unidos do início do século XX. O filme adapta o romance de Alice Walker com uma estrutura episódica que acompanha a trajetória da personagem Celie, entre perdas, separações, reencontros e tomadas de consciência.
Em contraste com o escapismo e os roteiros mais voltados para o entretenimento, A Cor Púrpura funciona como contraponto que ainda hoje ressoa em debates sobre representatividade, violência de gênero e ancestralidade.
Quarenta anos depois
Passadas quatro décadas, os filmes lançados em 1985 seguem como testemunhos de um tempo. Cada obra, à sua maneira, revela como o cinema lidava com medo, desejo, memória e poder. De um lado, estão as narrativas de fuga, magia e adolescência. De outro, os filmes de ação que canalizam conflitos internacionais. E, em paralelo, obras que enfrentam diretamente a complexidade das estruturas sociais.
Mais do que nostálgicos, esses títulos continuam sendo chaves de leitura sobre o mundo que os produziu — e sobre o modo como seguimos os projetando.