No dia 12 de julho de 1982, há exaos 32 anos, o mundo olhou para as estrelas com mais curiosidade. Era o 31º dia em cartaz de E.T. – O Extraterrestre, quando o filme de Steven Spielberg quebrou o recorde de bilheteria nos Estados Unidos, ultrapassando a impressionante marca de 100 milhões de dólares.
Mas o que realmente se consagrou não foram apenas cifras: foi a consolidação de uma linguagem emocional que redefiniu o cinema dos anos 1980 e reprogramou o imaginário coletivo.

O contexto da década: entre Guerra Fria e walkmans
Vivíamos uma era em que a tensão geopolítica da Guerra Fria se misturava com a ascensão da tecnologia doméstica: era o tempo do Atari, do walkman e das primeiras VHS nas prateleiras das locadoras. Os filmes que se destacavam na época – Blade Runner, Conan, Rocky III – carregavam um espírito mais adulto, brutalista ou performático. E.T., no entanto, propunha um retorno à pureza, à infância e ao olhar inocente sobre o desconhecido.
A criança que virou símbolo
Drew Barrymore, então com apenas sete anos, tornou-se ícone instantâneo como Gertie, a irmã caçula de Elliott (Henry Thomas). A cena em que ela apresenta um E.T. travestido à sua mãe ainda hoje carrega camadas de afeto e absurdo cômico.

Drew despontou como um dos rostos mais promissores de Hollywood e também se tornaria, nos anos seguintes, símbolo de uma geração que cresceu diante e dentro das telas.
Um alienígena com atributo humano
Ao contrário dos filmes de ficção científica anteriores, que pintavam os extraterrestres como ameaças invasoras, Spielberg apostou em uma criatura frágil, quase infantil, perdida num subúrbio americano. A comunicação entre E.T. e Elliott se deu por laços emocionais – um vínculo telepático que simbolizava, no fundo, o quanto a empatia era uma linguagem universal. O clássico “E.T. phone home” virou mantra de uma geração órfã de conexões verdadeiras.
Trilha, estética e eternidade
A trilha sonora de John Williams, que já havia brilhado em Star Wars e Tubarão, ganhou uma nova dimensão em E.T.: era lírica, mágica, carregada de uma nostalgia que se antecipa ao presente. E o uso da luz – das bicicletas voando diante da lua cheia ao dedo luminoso de E.T. – estabeleceu um repertório visual que ainda ecoa em cineastas como J.J. Abrams e nas produções nostálgicas como Stranger Things.
Legado e impacto cultural
Além de recorde de bilheteria, E.T. consolidou Spielberg como o “grande contador de histórias” da era moderna. Foi indicado a nove Oscars e levou quatro estatuetas. Em 1985, foi adicionado à Biblioteca do Congresso como “cultural, histórica e esteticamente significativo”. Mas o seu verdadeiro feito foi criar uma geração de espectadores que chorou no cinema pela primeira vez – e que aprendeu que a ficção científica também pode ter coração.
Décadas depois, ainda sentimos o dedo brilhante apontando para casa. Um lar que talvez seja, no fundo, aquele cinema escuro em que aprendemos a amar o outro – mesmo que o outro tenha a pele enrugada e venha de uma galáxia distante.
O filme está disponível no Telecine e Netflix