Em 18 de julho de 1995, os Ramones disseram "¡Adios Amigos!" – título com ironia latina e melancolia suburbana – e selaram a última pedrada de estúdio de uma das bandas mais cultuadas (e contraditoriamente subestimadas) da história do rock. O disco completa 30 anos nesta sexta-feira como epitáfio sonoro de uma geração que fez da distorção um manifesto, da repetição um símbolo e da simplicidade uma arma de guerra estética.
Lançado no fim de uma estrada já saturada pela indústria e pelas exaustões internas, “¡Adios Amigos!” é mais que uma despedida formal: é um testamento punk de sobrevivência. Esgotados pelo tempo, mas ainda com faro para refrões ácidos, Joey, Johnny, C.J. e Marky entregam um álbum que é ao mesmo tempo reativo e reflexivo, reverberando o esqueleto do punk 77 com uma crueza que desafia as modas da época, ainda que sussurre a mortalidade no fundo das faixas.
No repertório, os Ramones experimentam uma oscilação entre o niilismo lúdico e o desencanto realista. Canções como “I Don’t Want to Grow Up” (cover de Tom Waits) e “Life’s a Gas” (de Marc Bolan) funcionam como antíteses harmônicas: de um lado, a recusa pueril ao envelhecimento; do outro, a aceitação de que a chama, enfim, se apaga. A escolha desses covers não é aleatória – ela desenha uma curadoria de referências literárias e existenciais que situam os Ramones entre o punk e o pop filosófico, entre o CBGB e a Broadway do absurdo.
“Born to Die in Berlin”, última faixa gravada em estúdio pela banda, funciona como um epitáfio circular, um diário crepuscular entoado como se fosse declamado em um porão de Berlim, entre sintetizadores low-fi e guitarras encardidas. Joey canta em alemão como se reencarnasse um Brecht do Queens, de couro e tênis gastos, poeticamente cansado do mundo.
Trinta anos depois, “¡Adios Amigos!” ainda ecoa como um documento atemporal de uma banda que nunca buscou redenção, apenas volume, atitude e eternidade nas entrelinhas. Não é o melhor disco dos Ramones – e talvez isso o torne ainda mais verdadeiro. Porque o punk não se despede com estardalhaço, mas com ironia, fidelidade à crueza e um aceno despretensioso à posteridade.
Como escreveu Lester Bangs: “o rock não é sobre viver para sempre; é sobre explodir antes de enferrujar.”
E os Ramones, com esse último suspiro, conseguiram fazer as duas coisas.