Em 1º de setembro de 1939, o mesmo dia em que a Alemanha invadia a Polônia e a Segunda Guerra Mundial se iniciava, o físico teórico J. Robert Oppenheimer, ao lado de seu aluno Hartland Snyder, publicava o artigo que ficaria conhecido como o modelo Oppenheimer-Snyder. O estudo demonstrava, pela primeira vez de forma consistente, como os buracos negros poderiam se formar a partir do colapso gravitacional de estrelas massivas.
A data, carregada de tensões geopolíticas, também marcou a abertura de um abismo cósmico: a possibilidade de que o universo escondesse regiões onde o espaço e o tempo se diluem em silêncio absoluto.
A publicação passou despercebida pelo grande público, mas deixou marcas profundas na física. Era a antecipação de uma ideia quase mística: corpos celestes aprisionados pela própria gravidade, invisíveis e inevitáveis. Oppenheimer, que anos depois seria lembrado como o “pai da bomba atômica”, já intuía, naquele estudo, a simetria trágica entre o poder criador da ciência e sua face destrutiva.
Esse mesmo dilema atravessa a cinebiografia “Oppenheimer” (2023), dirigida por Christopher Nolan e disponível no catálogo da Netflix. O filme articula a vida pessoal e política do cientista com a dimensão filosófica de suas descobertas. Assim como no modelo de 1939, em que a física vislumbra o colapso das estrelas, a narrativa cinematográfica mostra o dilema moral de um homem confrontado com a responsabilidade de sua criação.
O resultado é uma obra que ecoa a própria natureza dos buracos negros. Um ponto de não retorno, em que ciência, poder e tragédia se fundem em silêncio ensurdecedor.