Kurt Vile acena com a velha guitarra ensolarada e um refrão que pega na curva, mas é no modo conversa, quase um pensar alto, que “One Trick Ponies” resolve. O groove é preguiçoso sem ser lento, uma corda que bate em loop como quem testa o eco do quarto. Por cima, o vocal arrasta sílabas até virar mantra. A canção desliza nesse vai-e-vem de estrada e sofá, um folk elétrico que prefere o horizonte largo às viradas dramáticas.

A letra joga contra o título: se todo mundo é “pônei de um truque”, Vile multiplica gestos sutis, trocas de acorde, rimas tortas, imagens prosaicas, até a canção ganhar uma graça particular. O humor é seco, anti-heroico, desmonta a pressa do mundo com observações de canto de olho, como quem assobia enquanto desfaz um nó. Nada de epifania grandiosa, é o encanto de ver o pensamento tropeçar e seguir adiante, meio risonho, meio teimoso.

Lançada em Bottle It In (2018), “One Trick Ponies” funciona como cartão-de-visita do disco: alongada, aberta, mais sobre a sensação do tempo do que sobre a tese de uma ideia. O riff retorna como memória que se reescuta para conferir se ainda é nossa. E é. Entre o brilho jangly e o pulso constante, Vile confirma o que o título ironiza: quem insiste em chamar isso de um truque só não percebe quantas frestas cabem numa mesma luz.