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Música da noite: debaixo da ponte, acima do mito
“Under the Bridge” é um hino íntimo em um disco incendiário, que completa 34 anos de lançamento nesta quarta, 24 de setembro.
Por LockDJ
Publicado em 24/09/2025 19:19 • Atualizado 24/09/2025 19:20
Música
canção desvia do hedonismo para mapear Los Angeles como quem caminha sozinho (Foto: Divulgação)

“Under the Bridge” é o instante de vulnerabilidade que fissura o concreto de Blood Sugar Sex Magik, álbum que completa 34 anos nesta quarta, 24 de setembro. No meio do calor funk-rock dos Peppers, Anthony Kiedis baixa o volume e abre o peito: solidão, cidade e memória se cruzam numa confissão que não precisa gritar para doer. A canção desvia do hedonismo para mapear Los Angeles como quem caminha sozinho, procurando um lugar onde “não se sinta amado”.

A engenharia aqui é de corpo e fantasma. Guitarra cintilante de Frusciante como névoa sobre as avenidas, baixo de Flea contido, bateria de Chad discreta, e aquele coro final que parece vir da própria cidade. Um templo urbano improvisado de saudade.


O arranjo vira cartografia emocional, e cada acorde aponta um cruzamento, cada pausa é um semáforo no vermelho. No universo vulcânico do disco, “Under the Bridge” funciona como o respiro que revela o incêndio. Quando o silêncio pesa, o coração fala mais alto.

Culturalmente, a faixa virou senha de entrada para quem achava o RHCP só excesso e suor. Ela prova que um álbum pode ser libidinoso e lírico, abrasivo e terno, e que a década de 90 cabia em uma esquina onde rock de arena encontra diário íntimo.


Trinta e quatro anos depois, seguimos atravessando essa ponte, entre a metrópole e o sujeito, entre a fúria e o afeto, entre a banda e o mito. E lá embaixo, ainda corre a mesma água que o disco ensinou a ouvir.

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