Google Analystic
Há 30 anos, (What’s the Story) Morning Glory? mudava o dial do planeta
Oasis trocou a dor do grunge por um coro de estádio, com menos catarse existencial, mais comunhão coletiva.
Por LockDJ
Publicado em 02/10/2025 06:00
Música
(What’s the Story) Morning Glory? continua soando como um ajuste de sintonia (Foto: Divulgação)

O ano era 1995 e o rádio parecia preso entre ressaca e reinvenção. O grunge ainda ecoava, o hip-hop ganhava tração no mainstream, o trip-hop esfriava as pistas, e a britpop brigava por manchete e coro. Em 2 de outubro, o Oasis lançou (What’s the Story) Morning Glory? e, de repente, as guitarras não sussurravam mais, elas gritavam em uníssono. Era a estética da canção grande, refrão inesquecível, frase lapidar para ser berrada no ônibus, no pub, no estádio. Trinta anos depois, o disco continua soando como um ajuste de sintonia: menos catarse existencial, mais comunhão coletiva.

Wonderwall” virou porta de entrada e piada eterna de violão de república, mas nada disso reduz o seu truque. Uma progressão hipnótica, percussão seca batendo como metrônomo de coração ansioso e uma melodia que parece já existir desde sempre. Noel escreve como quem cola frases abertas num quadro, “you’re gonna be the one that saves me”, e Liam canta como quem acredita. A produção de Owen Morris não tem pudor em comprimir, abrir e empilhar. Quando chegam as cordas, a canção já virou mantra pop. É pessoal, mas construída para multidões.

Em “Don’t Look Back in Anger”, Noel assume o vocal e a evocação é explícita. Piano à la Lennon, assobio melódico que se aprende em um verso e letra que cobra um preço doce da memória (“please don’t put your life in the hands of a rock and roll band”). O tema é britânico até o osso: nostalgia como combustível de futuro, ironia como couraça. E, no entanto, o destino da faixa foi global, virou hino de catarse pública, cantada em vigílias, arquibancadas e despedidas. Um caso raro de música que dá linguagem para um sentimento coletivo.

Champagne Supernova” é o delírio controlado do disco. Sete minutos de onda que sobe, arrebenta e volta, com Paul Weller despejando guitarras e vocais fantasmas. A letra, meio sonho febril, meio humor nonsense, funciona como paisagem líquida para a banda esticar a própria ideia de balada. Não é épica pela altura, e sim pela distância. Você entra e se perde, sem querer achar a saída.


Se “Wonderwall” é confissão e “Don’t Look Back…” é tributo, “Champagne Supernova” é transe.

Contexto que importa: em 1995, Se7en deixava o cinema mais sombrio, Coração Valente levava a pompa para a temporada de prêmios, Os Suspeitos brincava com percepção, Antes do Amanhecer reinventava o romance em tempo real e Apollo 13 vendia precisão como suspense.


No som, Bjork (Post), Radiohead (The Bends), Pulp (Different Class), Blur (The Great Escape), Tricky (Maxinquaye), Chemical Brothers (Exit Planet Dust), Alanis Morissette (Jagged Little Pill), Coolio e TLC disputavam o feed mental da juventude. O Oasis entrou nesse caldeirão com o antídoto simples e ambicioso: canções gigantes para serem cantadas de braço dado, com menos autoanálise, mais comunidade.

A engenharia do disco ainda intriga, sim. Gravado de modo veloz em Rockfield Studios, empilha camadas de guitarra, dobra vozes, clipa dinâmica sem pudor. Nada aqui é “fino”, é monolito. E funciona porque a banda entende a própria gramática: versos diretos, pontes que levantam a bola e refrões que nunca mais sentam. O álbum não é perfeito (e daí?), é posicionado. O Oasis trocou o confessionário por um megafone e acertou o espírito de uma década que precisava de slogans emocionais para gritar junto.

Trinta anos depois, o legado não é só estatística ou vinil relançado, é uso social. “Wonderwall” virou meme e ainda arrepio; “Don’t Look Back in Anger” é rito de passagem; “Champagne Supernova” continua sendo a viagem que fecha a noite. (Morning Glory?) não pediu desculpas por ser óbvio, lapidou a obviedade até virar arte aplicada. E, quando o público apertou “play”, o mundo trocou de frequência.

Comentários
Comentário enviado com sucesso!