“Mint Car” é o The Cure sorrindo de canto de boca. Um lampejo radiante em meio ao humor mutável dos anos 90. Lançada na fase de Wild Mood Swings, a faixa tem aquele brilho de guitarras cintilantes, baixo elástico e bateria saltitante que cola no corpo antes mesmo de a cabeça entender. É pop sem pedir desculpa, mas guarda a melancolia elegante que sempre perseguiu Robert Smith. Felicidade súbita, vulnerável, com bordas foscas.
A produção empilha camadas como vitrais, riffs em arpejo, pequenos estalos percussivos, voz nítida na linha de frente e um refrão que parece abrir cortinas. A canção respira fora da cartilha gótica, trocando sombras densas por luz filtrada. Não é euforia vazia, é leveza com cicatriz. Tudo soa arejado, mas a arquitetura é milimétrica, e cada detalhe empurra a música para o alto sem estourar o balão.
No fim, “Mint Car” é um instantâneo raro do The Cure quando decide caminhar no sol. Um retrato de alegria precária, dessas que chegam de mansinho e duram o tempo exato para virar memória. É a banda dizendo que o pop pode ser um abrigo, não uma rendição. E que, às vezes, entre tempestades, dá para acelerar com os vidros abertos.