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Prece rouca do blues, Janis Joplin partia há 55 anos
Do grito em Monterey ao mito no “Clube dos 27”, a voz que abriu caminho para mulheres no rock segue ecoando em cada refrão quebrado.
Por LockDJ
Publicado em 04/10/2025 06:00
Música
Rasgando o ar, costurando corações, Janis Joplin é a chama de um vestido de franjas (Foto: Reprodução)

Há 55 anos, em 4 de outubro de 1970, Janis Joplin partia aos 27 anos, no meio das sessões de Pearl. A notícia congelou uma era que ela mesma havia incendiado desde Monterey Pop (1967): um timbre áspero que vinha do blues e uma entrega sem colete salva-vidas.


Antes de se tornar ícone global, Janis lapidou sua persona no Big Brother and the Holding Company (Cheap Thrills, 1968), partiu para a Kozmic Blues Band (1969) e, por fim, encontrou em Pearl (1971, póstumo) o formato que a elevou ao cânone com “Me and Bobby McGee”, “Cry Baby” e a prece a capela de “Mercedes Benz”. O sucesso foi meteórico, e, justamente por isso, efêmero.

Sua passagem pelo Brasil, no Carnaval de 1970, é capítulo à parte: Rio, Salvador, o choque de cores, blocos, praias e uma tentativa de reordenar a vida longe dos círculos mais tóxicos. Janis flanou por Ipanema, se encantou com a informalidade dos encontros de rua, e desse período saiu por um tempo mais centrada. Foi o suficiente para voltar ao estúdio com foco renovado. O Brasil, para ela, foi um fôlego, para os brasileiros, uma lembrança de que o rock também se alimenta de rua, corpo e improviso.

Com a morte, Janis entrou para o “Clube dos 27”, mito tétrico do pop que reúne Brian Jones, Jimi Hendrix, Jim Morrison, Kurt Cobain, Amy Winehouse e outros talentos perdidos cedo demais. A etiqueta ajuda manchetes, mas empobrece biografias: no caso de Janis, o que permanece não é a cifra etária, e sim a coragem estética. Ela abriu portas para mulheres ocuparem o centro do palco sem pedir licença, da vulnerabilidade sem verniz à potência vocal que não precisava de ornamento para rasgar o ar.

Hoje, Janis sobrevive em discos sempre redescobertos, em documentários como Janis: Little Girl Blue (2015) e, sobretudo, no repertório que continua a ganhar novos intérpretes. O tempo a reposicionou: menos mártir, mais pioneira; menos lenda maldita, mais referência de autenticidade. Se o sucesso foi curto, o rastro não foi: cada “Piece of My Heart” que alguém canta no limite do fôlego ainda acende a mesma fogueira que ela acendeu, e nos lembra que algumas vozes não cabem em década nenhuma.

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