Em Hard Candy, Adam Duritz abre a janela e deixa entrar luz demais. Guitarras jangle polidas, refrões que brilham como letreiros velhos reacendidos, um power-pop com cheiro de rua molhada. O título já avisa: doce que corta a língua. É melodia fácil com aresta, cicatriz que aprende a cantar.
A canção entra como quem abre um pacote de doce no escuro: brilho na primeira mordida, corte na segunda. O violão puxa a rua para dentro do quarto, bateria enxuta e guitarras com verniz pop empurram Adam Duritz a cantar memórias como polaroids grudadas na língua. É refrão que cola sem pedir licença, mas cada verso tem farpa, e o açúcar vem com rachadura, nostalgia que arde.
No centro, a letra desfaz o mito do passado perfeito. Lembra que lembrança é edição, que toda doçura custa algo. O arranjo mantém o passo leve, quase de verão, enquanto a voz entrega o saldo. São amores em vitrine, cidades que piscam e não cumprem. “Hard Candy” é isso, um postcard luminoso com bordas gastas, melodia de rádio embrulhando uma verdade que não derrete.