Há instrumentos que falam. Outros, sussurram. O saxofone, esse sopro que parece nascer entre o pulmão e a alma, exerce as duas coisas ao mesmo tempo. No Dia do Saxofonista, celebrado neste 6 de novembro, é impossível não recordar os mestres que transformaram o ar em emoção e o silêncio em música: Charlie Parker, John Coltrane e Sonny Rollins, três nomes que reinventaram a linguagem do som.
Charlie “Bird” Parker abriu as asas do jazz moderno. Com ele, o sax alto deixou de ser mero acompanhamento e passou a ser a própria voz do improviso.
Nos becos esfumaçados do Harlem, Parker inaugurou o bebop, estilo veloz e cerebral que uniu técnica e vertigem. Sua genialidade era tão intensa quanto breve. Morreu jovem, mas seu voo ainda ecoa em cada nota que se arrisca no improviso.
John Coltrane, por sua vez, buscou o divino no som. Entre sopros e orações, transformou o sax tenor em um canal de transcendência. Obras como A Love Supreme provaram que a música pode ser, ao mesmo tempo, meditação e revolução.
Coltrane ia além de tocar. Ele rezava em cada harmônico, tentando traduzir o mistério do que é ser humano, e, quem sabe, do que é ser espírito.
E há Sonny Rollins, o gigante das pontes e dos silêncios. Retirou-se por anos para tocar sozinho, à beira do East River, em busca do som perfeito. Voltou com uma força ainda maior, reafirmando que a improvisação é também autoconhecimento. Sua energia, viva e pulsante, transformou o jazz em linguagem de resistência e liberdade.
Celebrar o Dia do Saxofonista é, portanto, enaltecer a voz invisível do vento, esse idioma que nasce do corpo e fala direto ao coração. É lembrar que, muito antes da tecnologia e das playlists, existia o sopro humano, o instante em que alguém fecha os olhos e transforma ar em sentimento.
Porque, no fim, o saxofone não é apenas um instrumento. É um estado de espírito, o ponto exato onde respiração e emoção se encontram.