Há algo de quase mítico no fato de músicas lançadas entre guitarras distorcidas e videoclipes granulosos dos anos 90 ainda movimentarem bilhões de plays em pleno streaming. “Losing My Religion”, “Smells Like Teen Spirit”, “Enter Sandman”, “Killing in the Name”, “Zombie”, “Wonderwall”, “No Surprises”, “All the Small Things”, “Scar Tissue” e “Otherside” são cápsulas sonoras de uma década em que o rock, nas suas diversas formas, condensou o desconforto de uma geração e traduziu o mal-estar de um mundo à beira da era digital.
A era do desencanto em som e fúria
Nos anos 90, o rock perdeu a inocência dos anos 80 e ganhou uma densidade emocional que ecoa até hoje. “Smells Like Teen Spirit” transformou o tédio suburbano em manifesto, e o Nirvana sintetizou o niilismo de uma juventude sem heróis. “Losing My Religion” fez o R.E.M. soar introspectivo e espiritual em plena MTV, enquanto o Metallica, com “Enter Sandman”, levou o peso do metal às massas. O Rage Against the Machine fez de “Killing in the Name” um grito político atemporal, cuja fúria contra o autoritarismo continua inflamando novas gerações.
A vulnerabilidade como legado
Nos bastidores do barulho, a melancolia virou linguagem universal. O Radiohead transformou alienação em arte minimalista com “No Surprises”, e o The Cranberries, com “Zombie”, deu à dor coletiva da guerra uma voz feminina poderosa e imortal. Do outro lado do Atlântico, o Oasis emplacou “Wonderwall” como a epítome da balada britpop. Uma canção sobre salvação emocional que, ironicamente, sobreviveu à própria era da ironia.
Da MTV ao algoritmo
O que explica, então, esses bilhões de plays? Além da nostalgia, há uma sensação de permanência estética. Essas canções não envelhecem porque falam de angústias humanas, como identidade, fé, raiva, perda, com uma honestidade crua que o pop contemporâneo muitas vezes dilui.
O streaming apenas democratizou o acesso ao que já era atemporal. O Red Hot Chili Peppers, com “Scar Tissue” e “Otherside”, e o Blink-182, com “All the Small Things”, representam a transição entre o desespero e a leveza. Os anos 90 aprenderam a rir do próprio caos.
Essas músicas sobreviveram ao tempo e moldaram uma era. E agora, no looping infinito do Spotify, seguem ensinando às novas gerações que, mesmo na era dos algoritmos, o verdadeiro clássico é aquele que continua dizendo algo sobre quem somos quando o barulho cessa.