Há artistas que envelhecem. Alan Moore, não. Ele simplesmente se aprofunda. Aos 72 anos, que completa nesta terça-feira, 18 de novembro, o mago de Northampton segue como uma espécie de contracorrente viva, um escritor que transformou quadrinhos em literatura, literatura em ritual, e o próprio ritual em um jeito de decifrar o caos contemporâneo.
Moore nunca escreveu histórias. Ele rabiscou arquiteturas mentais, cidades com pulsação própria, cenários atravessados por política, misticismo, rancor urbano e poesia esquisita. É impossível ler Watchmen hoje e não sentir que ele previu o século inteiro, com seus messias fracassados, vigilantes cansados e democracias esticadas até o limite. Em V de Vingança, deu à imaginação coletiva uma máscara que virou símbolo político global. Em Do Inferno, transformou Jack, o Estripador numa tese sobre poder, decadência e delírios patriarcais. Uma história de terror que nunca precisou de sustos, apenas de lucidez.
Mas Moore não se resume às HQs. É romancista, performer, poeta beat tardio, ensaísta místico. Um artista que assume sem pudor que magia e escrita habitam o mesmo universo. Dois modos de manipular símbolos para reorganizar a consciência. É por isso que seus livros parecem portais, não páginas.
E talvez essa seja a melhor forma de celebrar seus 72 anos: reconhecendo que Moore não é um veterano dos quadrinhos, mas um continente criativo. Um autor que transformou um meio inteiro sem pedir licença, que nunca quis agradar Hollywood, que recusa os holofotes e ainda assim ilumina quem lê.
Hoje, antes de soprar as velas, Moore provavelmente estará sentado em algum canto silencioso de Northampton, conversando com Glycon, tomando chá forte e anotando frases estranhas em um caderno velho. E, de algum modo, estará reinventando mais uma vez aquilo que pensamos ser possível dentro de uma história.
O mundo agradece por Alan Moore existir. O mago, anarquista, gênio indomável, que se recusa a tornar a vida simples.