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Paul McCartney e o disco de “protesto silencioso” contra uso de IA na música
Ainda assinam o projeto nomes de peso como integrantes do The Clash, Kate Bush e Annie Lennox.
Por Redação Rádio VB
Publicado em 18/11/2025 12:16 • Atualizado 18/11/2025 12:16
Música
Paul adiciona faixa silenciosa em protesto contra roubo de direitos autorais (Foto: Jim Dyson)

Paul McCartney, que raramente é associado a canções de protesto desde o polêmico single “Give Ireland Back to the Irish”, de 1972, resolveu mudar o tom – justamente abrindo mão de qualquer som. O ex-Beatle aderiu a um projeto coletivo de artistas que denuncia o uso de obras musicais por empresas de inteligência artificial sem a devida proteção de direitos autorais.

 

Tudo gira em torno do álbum Is This What We Want?, lançado em versão digital em fevereiro. O disco é formado apenas por ruídos de ambiente captados em estúdios de gravação: nada de instrumentos, melodias ou vozes. A proposta é simbólica, mostrar o “apagão” criativo e financeiro que os músicos temem com uma mudança na lei de direitos autorais do Reino Unido, que poderia permitir que empresas de IA usem gravações e outras obras artísticas como base para seus modelos sem remuneração justa. Segundo os organizadores, o silêncio do álbum representa “o impacto que esperamos que as propostas do governo tenham sobre os meios de subsistência dos músicos”.

Para a edição em vinil, prevista para 8 de dezembro, McCartney entrou oficialmente no time com uma faixa conceitual: “Bonus Track”, dois minutos e 45 segundos de silêncio absoluto. Uma espécie de protesto em forma de ausência.

As preocupações do músico com a inteligência artificial não são novas. Em entrevista à BBC no início do ano, ele criticou a lógica de exploração das plataformas: jovens artistas compõem canções, mas acabam sem controle sobre suas obras, enquanto grandes empresas abocanham os ganhos. “Quando chega às plataformas de streaming, alguém está recebendo [o dinheiro], e deveria ser a pessoa que a criou. Não deveria ser só algum gigante da tecnologia em algum lugar”, resumiu, citando “Yesterday” como exemplo de criação que deveria, acima de tudo, beneficiar o próprio autor.

O próprio álbum também funciona como manifesto escrito. Cada faixa da versão digital trazia um título de uma única palavra e, alinhadas na ordem certa, formavam uma frase direta: “The British Government Must Not Legalize Music Theft to Benefit AI Companies” (“O governo britânico não deve legalizar o roubo de música para beneficiar empresas de IA”).

Assinam o projeto, ao lado de McCartney, nomes de peso como integrantes do The Clash, Kate Bush, Annie Lennox, Tori Amos, Damon Albarn, o compositor Hans Zimmer, Billy Ocean e Yusuf/Cat Stevens. Toda a renda será destinada à instituição de caridade Help Musicians, que oferece apoio financeiro e emocional a profissionais da música – justamente aqueles que, no mundo real, não podem se dar ao luxo de viver de silêncio.

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