Há covers que apenas repetem, e outros reinterpretam o DNA da faixa original como se mexessem em placas tectônicas. Heroes, na versão do The Wallflowers, pertence à segunda categoria: menos glam e menos grandiosa que a de Bowie, mas carregada de um clima urbano desgastado, quase industrial, como se o heroísmo cantado ali fosse uma resistência silenciosa, não um brado épico. É uma música que parece suar ferrugem, perfeita para a estética de blockbuster distópico dos anos 90.
A faixa nasceu como single da trilha de Godzilla (1998), aquele cinema-catástrofe maximalista, cheio de prédios tombando e guitarras distorcidas. E é exatamente esse espírito que Jacob Dylan e banda capturam, com riffs ásperos, bateria em ritmo de perseguição, vocais que não usam a ironia de Bowie, mas sim um desencanto sincero. O resultado é quase um paradoxo, um cover que se afasta do mito para revelar o humano.
Ouvir essa versão é revisitar um registro de época. O finzinho dos anos 90 tentando soar moderno, o rock alternativo flertando com o mainstream, os grandes estúdios buscando atitude. E no meio disso tudo, uma releitura que virou hit por mérito próprio, não por competir com Bowie, mas por encontrar outro tipo de herói. Mais cansado, mais real, mais próximo da queda que da glória.