“Fluorescent Adolescent” é aquele tipo de música que parece ter sido escrita numa madrugada em que tudo é memória, e nenhuma lembrança é confiável. O Arctic Monkeys costura guitarras afiadas com um lirismo que soa juvenil e cansado ao mesmo tempo, como se a juventude fosse uma fotografia tremida encontrada no fundo de uma gaveta.
Alex Turner canta sobre o fim do brilho, o desgaste das noites que antes eram épicas e agora são apenas repetidas. A vida adulta chega sem avisar, e a canção acende essa lâmpada fria no rosto da gente.
O charme do som está justamente no contraste, na batida esperta, refrão de britpop açucarado, mas letras que falam de desencanto com a suavidade de quem aprendeu a rir do trágico. Não é triste, é quase uma confissão irônica, como se Turner estivesse olhando para sua versão adolescente e dando um tapinha no ombro: “calma, você ainda vai estragar muita coisa antes de acertar”. A nostalgia aqui não é doce, é elétrica, fluorescente, meio ácida.
Ao final, “Fluorescent Adolescent” funciona como um pequeno rito de passagem musical. É sobre perder algo que talvez nunca tenha existido, sobre perceber que crescer não é grande vantagem e que, mesmo assim, seguimos dançando. É o tipo de faixa que envelhece bem justamente porque fala do que não vê o tempo passar. O desejo é de recuperar o que éramos, nem que seja por três minutos e meio de rock britânico impecável.