First of the Gang to Die parece carregar uma cidade inteira nos ombros. Morrissey transforma o destino trágico de Hector em um rito de passagem urbano, meio violento, melancólico e paradoxalmente luminoso. Na cadência da canção, cada verso ecoa como grafite molhado pela chuva, um mural improvisado onde juventudes perdidas encontram a única forma de permanecer, que é sendo lembradas.
Mas Hector não é só personagem, é síntese. É o ragazzo que desafiou a noite. O garoto que corre mais rápido do que o futuro, que ama com a urgência de quem sabe que a noite não perdoa, e que se sacrifica por uma glória pequena demais para durar. Sua morte não é apenas um fim, é um lembrete que os heróis das periferias são feitos de coragem e condenação, matéria-prima que o mundo insiste em desperdiçar.
E Morrissey, com sua ironia resignada, entrega essa história como quem acende uma vela para sombras que nunca se dissipam. Na música, Hector continua jovem, insolente e eterno. Foi o primeiro da galera a morrer, mas também o primeiro a provar que, mesmo esmagada pelas estatísticas, a vida encontra maneiras de arder.