Robert Smith, 66 anos: o fantasma que ainda dança
Com chuva nos olhos e guitarra nas mãos, vocalista do The Cure não é tempo, nem moda.
Por LockDJ
Publicado em 21/04/2025 10:39
Música
Entre o rímel e o reverb, uma vida em forma de eco (Foto: Reprodução)

Nesta segunda-feira, 21 de abril, Robert Smith completa 66 anos. O líder do The Cure atravessou décadas como quem atravessa um corredor escuro: com passos firmes, ecos poéticos e uma presença que nunca precisou de permissão para existir. Não se trata apenas de um vocalista ou guitarrista — trata-se de uma atmosfera.

 

Robert Smith construiu sua figura como quem esculpe uma crônica do avesso. Cabelos desgrenhados, batom borrado, olhos que parecem traduzir bibliotecas inteiras de melancolia. Uma persona visual que nunca se traduziu em caricatura, mas em linguagem.

 

Com o The Cure, Smith embaralhou gêneros. Pós-punk, new wave, pop, rock alternativo — rótulos se esfarelam diante de discos como Pornography, Disintegration ou Kiss Me, Kiss Me, Kiss Me. São obras que funcionam como diários emocionais. A festa e o luto dividindo o mesmo quarto.

 

Sua escrita sempre transitou entre a delicadeza de um bilhete escrito à mão e o peso de uma madrugada sem fim. Não há urgência na voz de Smith — há permanência. É como se cada palavra tivesse sido pensada durante uma caminhada solitária sob a chuva.

 

Em tempos em que a velocidade atropela o silêncio, Robert Smith permanece imóvel no centro da tempestade, oferecendo canções que funcionam como abrigo. Ele não canta para consolar. Canta para lembrar que o vazio também tem paisagem.

 

Robert Smith não envelheceu. Apenas continuou sendo. Como se o tempo tivesse decidido respeitar sua singularidade. Aos 66, ele não é o passado que persiste. É o presente que nunca deixou de sussurrar:

 

"I don’t care if Monday’s blue…"

 

 

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