Em 1999, quando o milênio já ameaçava virar a esquina e a música pop começava a experimentar com a eletrônica, o hip-hop e a rebeldia sem direção, Macy Gray lançou “I Try” — uma canção que parecia deslocada no tempo, e justamente por isso, se estabeleceu.
Nascida do álbum On How Life Is, "I Try" foi mais que um hit; foi um sussurro honesto no meio do barulho que tomava conta do mundo. A voz rouca e quebradiça de Macy, que parecia tropeçar nas próprias emoções, fez a música soar como uma carta de amor esquecida no fundo de uma gaveta — amassada, sincera, inegociável.
Enquanto os holofotes giravam para o pop polido de Britney Spears ou o rap explosivo de Eminem, Macy surgia quase como uma intrusa, uma cigana errante trazendo na bagagem a soul music, o R&B orgânico e uma vulnerabilidade radicalmente humana.
"I Try" falava do esforço de seguir em frente, mas também da aceitação tácita do fracasso — de tentar, falhar e continuar amando mesmo assim.
Musicalmente, a faixa era minimalista: bateria contida, violões sussurrantes, uma melodia que dançava na beira do melancólico sem nunca se afogar nele. E o refrão, aquele refrão arrastado e dolorido, era a tradução perfeita do caos emocional: "I try to say goodbye and I choke / I try to walk away and I stumble..." — uma honestidade que não precisava de grandes produções para ser devastadora.
Não por acaso, "I Try" rendeu a Macy Gray o Grammy de Melhor Performance Vocal Pop Feminina em 2001, e ainda indicou a música a outras categorias principais. Mas, mais do que prêmios, a canção se infiltrou no inconsciente coletivo: trilhou cenas de séries como The Office e Mrs. Brown’s Boys, ecoou em versões alternativas (como o cover de Carly Rae Jepsen no Canadian Idol), e envelheceu como aqueles vinis que, com cada chiado, só se tornam mais valiosos.
"I Try" é, talvez, um dos últimos acordes sinceros dos anos 90 — um relicário de sentimentos num tempo que estava prestes a se tornar cínico, digital e acelerado demais para admitir que amar, no fim das contas, ainda era algo que nos fazia tropeçar.