O 29 de abril carrega um símbolo: é o Dia Internacional da Dança, celebrado em homenagem ao nascimento de Jean-Georges Noverre (1727–1810), o mestre francês que imaginou a dança não como adorno, mas como expressão da alma.
Noverre queria a dança menos presa à técnica e mais conectada à emoção — uma ideia que, atravessando séculos, desaguaria em lugares inusitados. Como, por exemplo, num verão de 1963 fictício, embalado ao som de "(I've Had) The Time of My Life".
Dirty Dancing – Ritmo Quente (1987) é muito mais do que um romance sobre um professor de dança e uma garota da alta sociedade. É um manifesto sutil sobre movimento, escolha e transgressão. Cada passo de dança que Baby aprende com Johnny é também uma quebra de regras — sociais, familiares, morais.
Assim como Noverre sonhava em libertar os corpos das amarras rígidas do balé de corte, Dirty Dancing liberta seus personagens (e seus espectadores) de um mundo que dita como devemos nos comportar, quem devemos amar, o que devemos sentir.
A dança, aqui, é rebeldia. Não aquela caricata, mas a revolução silenciosa que acontece quando alguém decide que vai ser, por fim, inteiro. Quando Baby se joga nos braços de Johnny naquele salto improvável — talvez um dos gestos mais emblemáticos da história do cinema —, ela repete, sem palavras, o que a dança sempre gritou: ser livre é arriscar.
No final, seja no palco de um teatro francês do século XVIII ou numa pista improvisada de um resort de férias nos anos 60, dançar sempre foi mais do que seguir uma coreografia. Foi, e ainda é, uma maneira de existir plenamente no próprio corpo. De desafiar o que é esperado. De dizer "eu estou aqui" sem precisar de outra linguagem.
Entre Noverre e Baby, entre Paris e Catskills, entre o balé clássico e a lambada improvisada, o que pulsa é o mesmo: o direito de viver, se mover e amar sem pedir permissão.
E se a dança é tudo isso, então talvez não seja exagero dizer que dançar — mesmo que seja só no quarto, com a porta trancada e a música alta — seja uma forma de sobrevivência.
#DiaInternacionalDaDança