Era o final dos anos 1980 em Boston quando três estudantes, Evan Dando, Ben Deily e Jesse Peretz, resolveram criar uma banda com nome estranho, inspirado em um doce popular nos EUA: os Lemonheads. O trio começou com um som mais cru e punk, mas logo se distanciaria desse universo para mergulhar na cena alternativa.
Evan Dando, o carismático (e um tanto autodestrutivo) vocalista e guitarrista, assumiria o controle criativo da banda, que ganharia destaque com letras melancólicas, guitarras jangly e melodias doces. Em 1992, o disco “It’s a Shame About Ray” colocou os Lemonheads no mapa da cena alternativa mundial. A faixa-título virou hino dos corações partidos, e o cover de “Mrs. Robinson”, de Simon & Garfunkel, impulsionou a banda nas rádios e na MTV — embora Paul Simon não tenha aprovado a versão de imediato.
O sucesso, porém, teve um preço. Dando, com sua verve negligente, virou ícone involuntário de um clube restrita — mesmo sem se identificar com ele. Nos bastidores, mergulhava em festas, vícios e colapsos emocionais. Virou amigo de Kurt Cobain, frequentador assíduo de festivais como Reading e Lollapalooza, e presença constante nas páginas da Spin e da Rolling Stone. Sua imagem dividia espaço entre o culto e o caos.
Mesmo assim, o talento resistia. Álbuns como “Come on Feel the Lemonheads” (1993) mostravam uma banda com tino para o pop, o folk e o punk, tudo ao mesmo tempo. “Into Your Arms” virou hit global e talvez o ponto mais alto da carreira deles.
Mas depois veio o silêncio. A banda entrou em hiato, Dando lançou discos solo e enfrentou suas batalhas pessoais. Por volta de 2006, os Lemonheads ressurgiram com uma nova formação, sempre com Evan no centro. Desde então, com formações diferentes, continuam se apresentando, lançando projetos esporádicos e mantendo a aura cult de quem foi grande sem nunca ter implorado para ser.
Sobre um disco
A capa do It’s a Shame About Ray, com uma adolescente meio desfocada, se tornou uma das imagens mais emblemáticas da cena alternativa dos anos 90. Ninguém sabia direito quem era ela. E isso é um pouco a essência dos Lemonheads: meio dispersos, misteriosos, doces e melancólicos — como uma lembrança que você não consegue apagar.
