Há uma névoa densa e poética que paira sobre o “Clube dos 27”, essa espécie de limbo místico onde repousam ícones do rock que deixaram o mundo cedo demais — aos 27 anos, exatamente. Mais do que coincidência trágica, o número virou símbolo de um pacto não assinado entre genialidade e autodestruição, entre a arte em combustão e a fragilidade humana em colapso.
Não é um clube com carteirinha, tampouco uma entidade oficial, mas uma constelação melancólica formada por nomes que redefiniram a música, mas que não atravessaram a linha da juventude para a maturidade.
O primeiro que parece acenar das sombras é Robert Johnson, o bluesman que, segundo a lenda, vendeu a alma ao diabo em troca de talento. Depois vêm os anos 60 e 70, quando o culto ao excesso virou estética. Brian Jones, gênio inquieto dos Rolling Stones, foi encontrado sem vida na piscina de sua casa inglesa em 1969 — o início do mito. No ano seguinte, Jimi Hendrix se afogaria em seu próprio vômito após tomar remédios para dormir.
Janis Joplin, a mulher que berrava dores em blues com a força de um furacão, tombaria dias depois, vítima da heroína. Jim Morrison, o xamã lírico do The Doors, seria encontrado morto em uma banheira parisiense meses depois, em circunstâncias ainda envoltas em mistério e especulação.
O culto ganha contornos ainda mais sombrios em 1994, com o suposto suicídio de Kurt Cobain, o rosto esgarçado de uma geração que gritava "Nevermind" enquanto mergulhava em sua própria depressão. Em 2011, a adição de Amy Winehouse ao grupo selaria a perpetuação do mito: a cantora, que flertava com o soul como se fosse Billie Holiday reencarnada, desmoronou sob o peso de sua fama e vícios.
Entre esses nomes mais conhecidos, há outros vultos cultuados nos bastidores da história da música: Ron “Pigpen” McKernan (Grateful Dead), Pete Ham (Badfinger), David Alexander (The Stooges), Pete de Freitas (Echo & the Bunnymen), Gary Thain (Uriah Heep) e Mia Zapata (The Gits) — todos artistas que viveram intensamente e sucumbiram cedo, selando com sangue e silêncio sua permanência no clube.
Não há prova estatística que comprove que 27 seja uma idade mais fatal que outra. Mas o Clube dos 27 persiste porque é mais que dado: é símbolo. Representa o momento em que a chama criativa, acesa demais, queima o próprio corpo. Como disse Neil Young, em verso já eternizado: "It’s better to burn out than to fade away."
E para os que ficaram, resta a memória, o som, e o eco de uma pergunta: o que mais teriam feito se tivessem vivido além dos 27?