Há datas que carregam uma energia tão densa e simbólica que parecem desafiar o acaso. O dia 20 de julho é exemplo claro: uma espécie de espiral cósmico que concentra nascentes, rupturas, celebrações e tragédias do universo do rock e da cultura pop.
Comecemos pelos berços. É impossível ignorar que neste dia vieram ao mundo Carlos Santana (1947), Paul Cook dos Sex Pistols (1956), Jay Jay French do Twisted Sister (1952), Dave Evans, primeiro vocalista do AC/DC (1953), além de dois pilares do grunge e do rock alternativo dos anos 90: Chris Cornell (Soundgarden, 1964) e Stone Gossard (Pearl Jam, 1966). É como se o 20 de julho fosse um útero cósmico da distorção elétrica — um calendário de nascimentos que mapeia quase toda a espinha dorsal do rock em sua pluralidade sonora, da psicodelia à fúria punk, do virtuosismo latino à dor rasgada do grunge.
Em 1974, Joey Ramone deixava a bateria para se tornar a voz crua e cravada dos Ramones — gesto simples, quase casual, que reconfiguraria o mapa da música de garagem no mundo inteiro. Exatos sete anos depois, em 1981, os Ramones lançariam Pleasant Dreams, álbum que rompia com o punk raiz e flertava com uma sonoridade mais pop. Era o começo da mutação — e também da cisão interna — de uma das bandas mais influentes da história.
A data também marca o lançamento de “Like a Rolling Stone”, de Bob Dylan, em 1965 — faixa que transformou para sempre a canção popular. Com seis minutos de duração e uma lírica ácida e dylaniana até o osso, a música redefiniu os limites do que uma composição pop podia ser, rasgando a lógica das rádios e abrindo espaço para que a arte entrasse com os dois pés nas ondas do mainstream.
Em 1986, Carlos Santana celebrava duas décadas de carreira, e o filme Sid and Nancy chegava às telas, trazendo o romance trágico entre o baixista dos Sex Pistols, Sid Vicious, e sua namorada Nancy Spungen. O filme viria a se tornar símbolo da decadência do punk, quase um estudo de caso da autodestruição como estética — tudo no mesmo dia em que o empresário do Van Halen, Ed Leffler, levava uma surra de um desconhecido. Caos, glamour e violência: 20 de julho em sua forma mais punk.

Nancy Spungen e Sid Vicious (Foto: Reprodução)
Em 1987, Mick Jagger filmava o clipe de Let’s Work nas ruas de Nova York, tentando se reinventar como símbolo de vitalidade e resiliência. No mesmo espírito de movimento, Bruce Dickinson, em 2006, deixava os palcos e assumia os comandos de um avião para resgatar cidadãos britânicos presos no Líbano durante um conflito. O frontman do Iron Maiden mostrava que o heavy metal também pode ter coração e sangue quente — não só distorção e caveiras.
Mas nem tudo é celebração. No 20 de julho de 2017, o silêncio desceu brutal sobre os fãs do Linkin Park e do rock contemporâneo: Chester Bennington, uma das vozes mais intensas da virada dos anos 2000, foi encontrado morto. A data, que parecia ter sido marcada para nascimentos sonoros, tornou-se também o epitáfio de uma geração que carregava suas dores como hinos.
20 de julho é um ponto de colisão entre o nascimento e o luto, entre a distorção e o silêncio, entre a glória dos palcos e o peso do backstage. Um dia em que o rock não apenas tocou — ele viveu, morreu, e seguiu tocando.