“Queixa” soa como um corte elegante no tecido da música brasileira: uma canção que mistura sensualidade, ironia e confissão sem nunca se entregar por completo. Caetano parece brincar com as palavras, colocando em choque o prazer e o lamento, a festa e a dor. Há algo de elétrico e inesperado em cada verso, como se o autor soubesse que a leveza pode carregar o peso de um abismo.
A faixa carrega aquele DNA de Caetano dos anos 80, quando o tropicalismo já havia virado outra atmosfera; mais pop, mais urbana, mais íntima. É uma canção que dança na linha tênue entre o amor e o desencanto, mas sempre com um groove que impede qualquer tragédia de pesar demais. Ao fundo, a melodia embala a voz quase insolente de Caetano, que parece cantar sorrindo e ferido ao mesmo tempo.
Talvez a força de “Queixa” esteja justamente nesse gesto de expor fragilidade com batida de celebração. É como se dissesse: “sim, eu sofro, mas também me movo, me reinvento, me desloco”. A canção, então, vira um manifesto de sobrevivência emocional, embalado em cores e ritmos que recusam o conformismo. O drama está ali, mas nunca sem o convite para dançar.