O compacto de “Born to Run” saiu em agosto de 1975 nos EUA (com “Meeting Across the River” no lado B) — há registros do dia 25/08/1975 como data oficial de lançamento do single. O álbum homônimo chegou na mesma época. Neste sábado, 20/09/2025, é celebrado meio século dessa virada na carreira de Bruce Springsteen.
O mundo em 1975 — e a faísca
Em meados dos anos 70, o rock alternava entre o virtuosismo das arenas e o desencanto pós-Watergate. É nesse cenário que Springsteen surge com um manifesto de juventude e asfalto, comprimindo numa faixa quatro minutos de urgência, romance e fuga. “Born to Run” é menos um convite à estrada e mais um grito de sobrevivência no limite entre o sonho americano e as rachaduras da realidade. É um filme em alta velocidade rodado em preto-e-branco no Jersey Shore.
O som: parede de ecos, motor V8
Produzida sob a ambição de um Wall of Sound à la Phil Spector, a gravação pilota como um V8: bateria de Max Weinberg marcando o passo, piano de Roy Bittan desenhando a melodia, sax de Clarence Clemons abrindo a pista para o sprint final. Cada estrofe sobe meio lance de escada até o refrão desembestar; cordas, sinos, guitarras e vozes formam a avalanche que faz da canção um hino. No volume máximo, ela parece maior que a sala, e é justamente essa desmedida que a torna impactante.
A letra: promessas na beira da cidade
“Wendy, let me in, I wanna be your friend” é menos galanteio que pacto de resgate: dois personagens à margem apostam tudo numa saída improvável. Carros viram botes salva-vidas; pontes, portais; a cidade, antagonista e desejo. A poesia de Springsteen, cinematográfica e concreta, estabiliza a canção entre o romance de beira de estrada e a tragédia anunciada (se a fuga falhar, ao menos terá sido em velocidade).
O impacto imediato
Foi o primeiro Top 40 de Springsteen nos EUA (pico no nº 23 da Billboard), irradiado pelas rádios AOR e pavimentando a explosão do álbum. Em semanas, o cantor que brigava por espaço virou manchete e mito de palco, com shows catárticos que consolidaram a E Street Band como máquina de conversão de céticos.
O legado que não estaciona
Cinquenta anos depois, “Born to Run” continua sendo porta de entrada para Springsteen e medida-padrão para hinos de rock sobre desejo e fuga. Na cultura pop, é referência constante: da iconografia de jaqueta e estrada às setlists que ainda hoje culminam na correria final do sax. A faixa permanece no coração do cânone e no tanque de quem precisa de um empurrão para atravessar a noite.
Para (re)ouvir hoje
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Born to Run (single, 1975) — a versão que começou tudo.
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Born to Run (álbum, 1975) — “Thunder Road”, “Backstreets” e “Jungleland” completam a cartografia emocional daquele verão eterno.
Meio século depois, o refrão ainda embala o mesmo salto de fé: dar partida, mirar a linha do horizonte — e ir.