Lançada como single de “Sailing to Philadelphia” (2000), segundo álbum solo de Mark Knopfler, “What It Is” marca a consolidação do compositor fora do Dire Straits: depois de encerrar a banda em meados dos anos 90 e estrear solo com “Golden Heart” (1996), Knopfler afina uma linguagem própria, menos arena rock, mais crônica urbana com fingerstyle, folk/celta nas bordas e arranjo enxuto, que define sua rota individual no novo milênio.
“What It Is” abre caminho como trilha de estrada noturna: batida seca, baixo contido e a guitarra em fingerstyle cortando o ar com frases que parecem conversa sussurrada. O tema gira no eixo entre crônica urbana e devaneio. Knopfle é um narrador que observa a cidade e aceita suas contradições sem tentar resolvê-las. Nada de clímax explosivo: a tensão é de farol amarelo, meia-luz, ritmo que te empurra sem pressa.
A melodia traz aquele cruzamento que Knopfler domina: blues de calçada com sotaque celta no fundo, um motivo de “fiddle” dançando nas bordas enquanto a guitarra desenha miniaturas rítmicas. A mixagem mantém tudo no campo do real; instrumentos à vista, espaço respirando, como se a banda tocasse no canto de um bar, perto da porta, e o vento entrasse com o refrão. É canção que cresce na observação, não no volume.
No fim, “What It Is” funciona como manifesto discreto: aceitar a cidade como ela é, entender a noite como ela vem. É menos sobre respostas e mais sobre o gesto de andar, seguir em frente com o refrão na cabeça, colecionando detalhes que a luz fria do dia costuma apagar. O truque está aí: uma música que parece pequena, mas gruda no bolso do casaco e segue em frente.