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Abbey Road, 56 anos: o adeus perfeito que virou começo de mito
Álbum soa, até hoje, como um acerto de contas elegante entre invenção pop, artesania de estúdio e a sensação melancólica de fim de linha.
Por LockDJ
Publicado em 26/09/2025 06:00 • Atualizado 26/09/2025 08:34
Música
Foto foi feita por Iain Macmillan, na manhã de 8 de agosto de 1969, virou lenda

Nesta sexta, 26 de setembro, Abbey Road completa 56 anos. Lançado em 1969 pela Apple Records, foi o último álbum gravado pelos Beatles (embora Let It Be tenha saído depois) e soa, até hoje, como um acerto de contas elegante entre invenção pop, artesania de estúdio e a sensação melancólica de fim de linha.

 

Por que o nome “Abbey Road”


O título vem da rua londrina onde ficavam os estúdios da EMI, depois rebatizados de Abbey Road Studios. O projeto chegou a ter o título de trabalho “Everest”, mas a banda descartou a ideia de uma capa no Himalaia e optou pelo gesto minimalista: atravessar a faixa de pedestres em frente ao estúdio. Da preguiça logística nasceu um dos ícones visuais do século XX.

A capa que virou lenda


A foto foi feita por Iain Macmillan em poucas tomadas, na manhã de 8 de agosto de 1969. Paul McCartney descalço, o Volkswagen Beetle ao fundo (placa LMW 281F) e a ordem dos quatro na travessia alimentaram a teoria conspiratória do “Paul is dead”.


A imagem transformou uma esquina de St. John’s Wood em ponto de peregrinação e a faixa de pedestres em patrimônio simbólico do rock.


As canções: quando cada Beatle brilha

  • “Come Together” abre o disco com groove hipnótico e baixo elástico de McCartney, prenúncio de um rock mais denso.

  • “Something”, de George Harrison, é talvez a balada mais sofisticada da sua carreira — Frank Sinatra a chamaria de “a maior canção de amor já escrita”.

  • “Here Comes the Sun”, também de George, destila luz depois do inverno: melodia solar e um Moog pioneiro pontuando nuances eletrônicas.


  • “Because” empilha harmonias vocais como vitral sonoro; “I Want You (She’s So Heavy)” arrasta o blues à exaustão e corta abrupto, gesto de vanguarda.

  • Há ainda a doçura de “Octopus’s Garden” (Starkey/Harrison) e a ternura escondida de “Her Majesty”, o faixa fantasma que encerra tudo num sorriso de canto de boca.

  • “Oh! Darling” é o tributo de Paul McCartney ao R&B dos anos 50: piano de bar, baixo viscoso e uma interpretação rasgada que ele “arranhou” de propósito, chegando cedo ao estúdio por dias para deixar a voz no ponto certo. O refrão é um grito apaixonado que encontra John e George em harmonias sujas, enquanto a banda segura um shuffle lento, pesado, quase ao limite. Lennon diria depois que queria ter cantado essa, e dá para entender: é drama clássico em moldura vintage, a velha escola do rock’n’roll lapidada com precisão Beatles.

O “medley” do Lado B - uma sinfonia pop

Da sequência “You Never Give Me Your Money” a “The End”, os Beatles inventam uma suite pop que cola esboços em ouro maciço: fragmentos, modulações, guitarras em rodízio (com solos de Paul, George e John na mesma faixa) e a despedida em forma de epígrafe: “And in the end, the love you take is equal to the love you make.” É álbum e epílogo, colagem e legado.

O som do estúdio como instrumento


Gravado no recém-instalado console TG12345 (transistorizado) e em oito canais, Abbey Road lapida timbres com clareza moderna. O Moog de Harrison e os arranjos de George Martin expandem a paleta sem perder o pulso humano. Uma aula de produção que ainda dita referência para engenheiros e bandas.

Como é visto hoje


Cinquenta e seis anos depois, Abbey Road é ponto de equilíbrio entre a ousadia psicodélica dos Beatles e a perfeição do pop de estúdio. Consolidou George Harrison como autor maior, mostrou a banda funcionando, mesmo em crise, como máquina de invenção e deixou um manual de encerramento grandioso que o rock tentou repetir por décadas.


A capa é mito; o disco, um clássico que não envelhece, atravessando a faixa do tempo com a mesma naturalidade da primeira passada.

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