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Música da noite: insônia em fá maior na cartografia da vigília
Men At Work desmonta o neon da new wave e acende a lâmpada fria da ansiedade em “Overkill”.
Por LockDJ
Publicado em 26/09/2025 18:36 • Atualizado 26/09/2025 18:37
Música
Entre sax e respirações curtas, Colin Hay transforma a madrugada em confissão pop (Foto: Divulgação)

“Overkill” é o lado B emocional do Men At Work, a canção em que Colin Hay baixa o volume do humor e encosta a testa na janela. 1983, ressaca do sucesso global, e vem esse synth-pop contido com guitarra acústica à frente, bateria seca e o sax soprando melancolia (Greg Ham, em ponto de maturidade). A faixa não pede pista, mas, sim, fone, noite e rua vazia. É new wave sem brilho neon, pop com olheiras, e por isso mesmo mais honesto que muitos hinos da época.

A letra é um inventário de ansiedade. O sono que não vem, o pensamento que não desliga, o medo que “overkills” até o silêncio. Hay canta na borda da voz, quase falando, quase confessando, e tudo no arranjo abre espaço para esse nervo exposto. Não há catarse, há reconhecimento. É o tipo de música que não resolve nada, mas faz companhia enquanto a cabeça roda. E quando o refrão entra, não é explosão; é um passo a mais dentro do mesmo corredor.

Quarenta e poucos anos depois, “Overkill” segue moderna porque trata de um cansaço que a timeline só amplificou. É o single que sinaliza que o Men At Work era maior que o charme de “Down Under”. Sabia ser irônico e, quando quis, soube ser vulnerável sem pose. Se o pop dos 80s costuma soar como vidro colorido, “Overkill” é concreto úmido, marca o pé, registra a passagem e segue secando no tempo.

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