Neste domingo, 28 de setembro, completam-se 16 anos da morte de Lucy Vodden (1963–2009), a ex-colega de classe de Julian Lennon que batizou, sem querer, um dos momentos mais delirantes dos Beatles: “Lucy in the Sky with Diamonds”, faixa de 1967 do álbum Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band.
Lucy morreu aos 46 anos, em Londres, após longa batalha contra o lúpus, doença autoimune que ataca os próprios tecidos do corpo.
Um desenho, um título, um mito
Em 1966, Julian, então com quatro anos, voltou da escola com um desenho da amiga Lucy O’Donnell (sobrenome de solteira; depois, Vodden). “Lucy no céu com diamantes”, explicou à família, apontando as joias nos olhos da personagem. O enunciado virou faísca para John Lennon e, meses depois, música.
A canção, com suas imagens oníricas (“táxis feitos de jornal”, “garotas com olhos de caleidoscópio”), foi lida por parte do público como acróstico de LSD e chegou a ser banida pela BBC, apesar da versão oficial dos Beatles sempre ter insistido na origem infantil, não química.
Reencontros, silêncio e despedida
Décadas mais tarde, ao saber do diagnóstico de Lucy, Julian Lennon retomou contato. Ele contou que tentou se aproximar pelo que a amiga amava, jardinagem, um gesto simples e afetivo num enredo muitas vezes sequestrado por teorias.
A própria Lucy diria, em entrevistas, que não se reconhecia na canção (nem era fã do psicodelismo), e que, quando jovem, silenciou ao ouvir colegas reduzirem sua história à sigla proibida. A morte, anunciada em 28 de setembro de 2009, no St. Thomas’ Hospital, encerrou a vida de quem virou, à revelia, uma personagem maior que si.
Um clássico eterno
No panteão pop, Lucy é lembrete de que clássicos também nascem de pequenos gestos: um rabisco infantil, uma frase dita ao acaso, uma memória doméstica que atravessa décadas. Entre o brilho do mito e a vida real, feita de tratamentos, idas ao hospital e a solidão de uma doença crônica, fica a história de uma mulher comum que deu título a um universo inteiro. E talvez seja essa a beleza do pop: transformar um desenho de sala de aula em música que o mundo inteiro sabe cantar.