Em 29 de setembro de 1997, o The Verve lançou Urban Hymns e, sem querer, escreveu um epitáfio grandioso para a Britpop. O álbum soou maior que a moda do momento: guitarras em camadas, arranjos de cordas que ocupam a rua inteira e um Richard Ashcroft em estado de confissão pública. Não por acaso virou o título mais vendido da banda e um dos marcos daquele ano. Um disco de catarse coletiva que misturou redenção e ressaca.
“Bitter Sweet Symphony” abre como um corte no silêncio. O loop de cordas da Andrew Oldham Orchestra, a batida marchante, o mantra “I’m a million different people…” e um vocal que parece narrar a própria engrenagem da cidade.
É pop de estádio com nervo existencial, e, ao mesmo tempo, uma canção de esquina, feita para caminhar olhando vitrines e reflexos. Virou hino, rendeu batalha jurídica, e ainda hoje segura o peso do tempo como quem ampara um coro de milhares.
Na sequência do impacto, “Sonnet” troca o passo largo pela intimidade. Sem pirotecnia, a banda empilha acordes quentes, voz à frente e cordas que só respiram quando precisam.
Ashcroft canta o amor com ironia mansa (“don’t sound like no sonnet”) e entrega um dos registros mais vulneráveis do disco. É canção de fim de tarde, quando a luz baixa e a cidade desacelera, lembrando que o Verve sempre foi tão lírico quanto barulhento.
“Lucky Man” é a epifania particular. Violões claros, guitarras tremulando ao longe, um refrão que acende sem esforço. Depois da dureza de “Bitter Sweet Symphony” e da confissão de “Sonnet”, ela soa como o momento em que a vida finalmente se alinha, não por sorte cega, mas por reconhecer as pequenas vitórias.
É a canção que o público canta de olhos fechados, porque cada um sabe o seu próprio motivo para se sentir “lucky”.
Vinte e oito anos depois, Urban Hymns permanece grande porque não tem vergonha de sentir muito. É um álbum que acolhe o exagero como forma de verdade. Bate forte, sussurra certo e, quando precisa, abre os braços para todo mundo cantar junto. Entre o amargo e o doce, a sinfonia ainda toca.