Há algo nos falsetes que nos transporta – talvez uma fragilidade disfarçada de bravura, uma nota aguda que tenta alcançar o inalcançável. Em “She’s So High”, Tal Bachman entrega exatamente isso: um falsete que não é apenas um recurso vocal, mas o próprio núcleo emocional da canção. Lançada em 1999, a faixa se tornou um clássico do pop rock do final dos anos 90, evocando memórias de um tempo em que as rádios ainda eram o templo das confissões juvenis.
Inspirado por uma cena real de adolescência – o fracassado plano de ajudar o meio-irmão a conquistar uma garota popular – Bachman acabou encontrando a si mesmo perplexo e fascinado diante daquela figura inatingível. Essa estranha admiração platônica transbordou para a canção, uma ode à idealização feminina que reverbera no refrão elevado, guiado por falsetes que parecem tentar tocar o divino. É como se Bachman dissesse: “ela está tão acima, e eu mal consigo respirar aqui embaixo”.
Produzida por Bob Rock e gravada em Maui, a música carrega ecos sutis de Beatles e Beach Boys – referências confessadas por Bachman – especialmente na leveza harmônica e nas camadas vocais etéreas. O uso da guitarra de 12 cordas confere uma textura solar à composição, como se a própria sonoridade fizesse parte desse pedestal emocional onde a musa é colocada.
“She’s So High” é sobre desejo, sobre o abismo entre o que se quer e o que se é. É uma canção de distâncias. E são justamente os falsetes que expressam essa altitude emocional – ao subir a voz, Bachman dramatiza o impossível de alcançar alguém que parece tão acima, tão distante quanto Cleópatra, Joana d’Arc ou Afrodite (nomes evocados na letra).
O sucesso foi imediato: a canção chegou ao topo das paradas no Canadá, alcançou a 14ª posição na Billboard Hot 100 e rendeu a Bachman importantes prêmios, como “Canção do Ano” da BMI e dois Junos. Ainda hoje, ela sobrevive com dignidade nas playlists nostálgicas, nas trilhas de comédias românticas e na memória auditiva coletiva de quem viveu aquele fim de século marcado por melodias confessionais.
“She’s So High” é, em última análise, uma canção sobre a impossibilidade – e talvez por isso seus falsetes toquem tão fundo. Porque há algo de profundamente humano em tentar cantar onde não se alcança. E às vezes, é nesse esforço que mora a beleza.