✨ “Medo de Amar nº 3” é o avesso refinado da canção romântica. Gravada ao vivo no álbum Público (2000) — que completa 25 anos em 2025 —, Adriana Calcanhotto interpreta o amor com bisturi e distância crítica, como quem lê Barthes sob o abajur da madrugada e desconfia de toda entrega.
A canção resgata os ecos da lírica amorosa moderna e os descompassa com a ironia da canção popular urbana.
Nesta canção minimalista e quase performática, Adriana não canta o amor, ela o recita como um tratado subjetivo sobre o medo — com pausas, repetições e um silêncio que grita mais do que qualquer refrão. É como se Clarice Lispector tivesse escrito uma carta de amor e depois se arrependesse, deixando só as entrelinhas.
A música dialoga com a tradição da chanson française e o existencialismo à brasileira. Amor e medo se entrelaçam não como opostos, mas como vícios complementares. É a metalinguagem da paixão: querer e negar ao mesmo tempo, na voz fria e quente de Adriana.
Entre a estética da contenção e a ironia confessional, Medo de Amar nº 3 flerta com a tradição da canção moderna brasileira e com a literatura que nega o óbvio. Não se trata de amar — mas de desconfiar do amor como quem atravessa um campo minado de afetos.
Uma canção que sussurra onde outras gritam, e que sobrevive há 25 anos porque diz o que ninguém quer dizer: que o amor, às vezes, assusta mais do que a solidão.