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O feitiço sonoro de um disco que nunca acaba
Após mais de 50 anos, "The Dark Side of the Moon" continua sendo reinterpretado, projetado sobre telas, teorias e delírios.
Por LockDJ
Publicado em 23/07/2025 19:07 • Atualizado 23/07/2025 19:26
Música
O mito de Dark Side of the Rainbow revelou uma suposta sincronia com o filme O Mágico de Oz (Foto: Reprodução)

Há álbuns que envelhecem com seus autores. Outros parecem pertencer a alguma dobra no tempo — como se não pudessem ser explicados nem pela lógica da indústria, nem pela biografia de seus criadores. The Dark Side of the Moon, do Pink Floyd, é desses. Um disco que há mais de cinquenta anos continua sendo escutado, reinterpretado, projetado sobre telas, teorias e delírios. Um deles: a suposta sincronia perfeita com O Mágico de Oz, clássico do cinema estrelado por Judy Garland em 1939.

 

A história virou lenda nos anos 1990, quando um DJ norte-americano alegou ter adormecido com o disco tocando ao fundo, enquanto o filme rodava na televisão. Ao despertar, teria percebido que as músicas do álbum coincidiam perfeitamente com as cenas de Dorothy, do tornado ao caminho de tijolos amarelos. Surgia ali o mito de Dark Side of the Rainbow.

 

Roger Waters, um dos arquitetos do Pink Floyd, comentou sobre a especulação em uma entrevista ao podcast de Joe Rogan. Quando questionado se a sincronização entre álbum e filme era proposital, respondeu com ironia britânica:

 

"Besteira. Claro que é! Quer dizer, pode até funcionar se você fizer o que dizem, mas não tem nada a ver conosco. Nenhum de nós. Talvez seja uma coincidência cósmica."

 

Coincidência ou não, a ideia sobrevive porque Dark Side of the Moon não é um álbum comum — é um ritual de escuta. Lançado em 1973, em meio a debates sobre sanidade mental, tempo e alienação social, o disco usa seus 43 minutos para narrar uma espécie de mapa emocional da existência moderna. Do primeiro batimento cardíaco de "Speak to Me" ao silêncio que fecha "Eclipse", tudo é calculado, mas orgânico. Experimental, e profundamente acessível. Introspectivo, mas político.

 

 

Gravado no Abbey Road Studios, entre 1972 e 1973, o álbum exigiu da banda mais do que inspiração. Usaram os mais avançados recursos de estúdio disponíveis à época. Os integrantes operaram, por conta própria, sintetizadores analógicos, gravadores de fita e sistemas de mixagem quadrofônicos. Lendas contam que exigiram de fabricantes novos instrumentos — porque os disponíveis já não davam conta daquilo que eles buscavam: o som como uma experiência total, quase sinestésica.

 

Canções como Time, Money, Us and Them e The Great Gig in the Sky (com vocal magistral de Clare Torry) vão além da experiência musical. São fragmentos de angústia existencial, críticas sociais e espelhos emocionais — articulados como se fossem capítulos de um mesmo devaneio. Um devaneio que, por alguma razão, ainda ecoa.

 

 

Dark Side of the Moon ficou apenas uma semana no topo das paradas dos Estados Unidos. E, no entanto, permaneceu por 741 semanas consecutivas entre os 200 álbuns mais vendidos do país — o que equivale a mais de 14 anos. Em 2004, já somava mais de 40 milhões de cópias vendidas. Não é um sucesso. É uma obsessão cultural.

 

E talvez seja justamente por isso que a teoria com O Mágico de Oz persista. Porque, no fundo, não se trata de comprovar coincidência. Mas de aceitar que alguns discos parecem feitos para transcender o que entendemos como realidade. De vez em quando, eles se encaixam em algo maior. Mesmo que ninguém saiba explicar o porquê.

 

Que tal fazer o teste da sincronia? O filme está disponível no catálogo da plataforma MAX. É só dar o play no álbum após o rugido do leão da MGM e curtir a lisérgica viagem sonora visual.  

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